Imagem da Microsoft com edição de Cris Henriques |
2. Na lei moisaica, há duas partes
distintas: a lei de Deus, promulgada no monte Sinai, e a lei civil ou
disciplinar, decretada por Moisés. Uma é invariável; a outra, apropriada aos
costumes e ao carácter do povo, se modifica com o tempo.
A lei de Deus está formulada
nos dez mandamentos seguintes:
I. Eu sou o Senhor, vosso Deus,
que vos tirei do Egipto, da casa da servidão. Não tereis, diante de mim, outros
deuses estrangeiros. – Não fareis imagem esculpida, nem figura alguma do que
está em cima do céu, nem embaixo na Terra, nem do que quer que esteja nas águas
sob a terra. Não os adorareis e não lhes prestareis culto soberano.*
II. Não pronunciareis em vão o
nome do Senhor, vosso Deus.
III. Lembrai-vos de santificar
o dia do sábado.
IV. Honrai a vosso pai e a
vossa mãe, a fim de viverdes longo tempo na terra que o Senhor vosso Deus vos
dará.
V. Não mateis.
VI. Não cometais adultério.
VII. Não roubeis.
VIII. Não presteis testemunho falso contra o vosso próximo.
IX. Não desejeis a mulher do
vosso próximo.
X. Não cobiceis a casa do vosso
próximo, nem o seu servo, nem a sua serva, nem o seu boi, nem o seu asno, nem
qualquer das coisas que lhe pertençam.
É de todos os tempos e de todos
os países essa lei e tem, por isso mesmo, carácter divino. Todas as outras são leis
que Moisés decretou, obrigado que se via a conter, pelo temor, um povo de seu
natural turbulento e indisciplinado, no qual tinha ele de combater arraigados
abusos e preconceitos, adquiridos durante a escravidão do Egipto. Para imprimir
autoridade às suas leis, houve de lhes atribuir origem divina, conforme o fizeram
todos os legisladores dos povos primitivos. A autoridade do homem precisava apoiar-se
na autoridade de Deus; mas, só a ideia de um Deus terrível podia impressionar
criaturas ignorantes, em as quais ainda pouco desenvolvidos se encontravam o
senso moral e o sentimento de uma justiça recta. É evidente que aquele que
incluíra, entre os seus mandamentos, este: “Não matareis; não causareis dano ao
vosso próximo”, não poderia contradizer-se, fazendo da exterminação um dever. As
leis moisaicas, propriamente ditas, revestiam, pois, um carácter essencialmente
transitório.
*Nota – Allan Kardec cita a
parte mais importante do primeiro mandamento, e deixa de transcrever as
seguintes frases: “... porque eu, o Senhor vosso Deus, sou Deus zeloso, que
puno a iniquidade dos pais nos filhos, na terceira e na quarta gerações
daqueles que me aborrecem, e uso de misericórdia até mil gerações daqueles que
me amam e guardam os meus mandamentos.” (Êxodo, 20:5 e 6.)
Nas traduções feitas pelas
Igrejas católica e protestantes, essa parte do mandamento foi truncada para
harmonizá-la com a doutrina da encarnação única da alma. Onde está “na terceira
e na quarta gerações”, conforme a tradução Brasileira da Bíblia, a Vulgata Latina
(in tertiam et quartam generationem), a tradução de Zamenhof (en la tria kaj
kvara generacioj), mudaram o texto para “até à terceira e quarta gerações”.
Esses textos truncados que
aparecem na tradução da Igreja Anglicana, na Católica de Figueiredo, na
Protestante de Almeida e outras, tornam monstruosa a justiça divina, pois que
filhos, netos, bisnetos, tetranetos inocentes teriam de ser castigados pelo
pecado dos pais, avós, bisavós, tetravós. Foi uma infeliz tentativa de
acomodação da Lei à vida única. – A Editora da FEB, 1947.
O texto certo que, por mercê de
Deus, já está reproduzido pelas edições recentíssimas a que nos referimos –
traduções Brasileira e de Zamenhof –, que conferem com S. Jerónimo, mostra que
a Lei ensina veladamente a reencarnação e as expiações e provas. Na primeira e
na segunda gerações, como contemporâneos de seus filhos e netos, o Espírito
culpado ainda não reencarnou, mas, um pouco mais tarde – na terceira e quarta
gerações – já ele voltou e recebe as consequências de suas faltas. Assim, o
culpado mesmo, e não outrem, paga sua dívida.
Logo, tem-se de excluir a 1ª e
2ª gerações e expressar “na” 3ª e 4ª, como realmente é o original.
Achamos conveniente acrescentar
aqui esta nota, para facilitar a compreensão do estudioso que confronte a sua
tradução da Bíblia com a citação do Mestre. – A Editora da FEB, 1947.
Livro: O Evangelho Segundo O Espiritismo
Autor: Allan Kardec
Ainda não posso falar com propriedade teológica, mas como pessoa que acredita no amor de Deus e na sua justiça misericordiosa não me assusto com as palavras colocadas na Bíblia e em outros livros; afinal uma palavra é cheia de sentidos e seus sentidos varia de país para país. Traduzir um livro de um idioma pra outro é trabalhoso...imagino um livro com teor teológico.
ResponderEliminarGostei muito do texto e de muitos outros que já li.
Abraços!